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PEDRO FONSECA

A exposição Pedro Fonseca – Fotografia apresenta dois aspectos incontornáveis presentes no trabalho desse fotógrafo: a modernidade latente de uma cidade em transformação e a vida cotidiana das pessoas de um tempo. As imagens de Pedro Fonseca trazem justamente a sensibilidade do observador no limiar desses dois mundos – moderno e tradicional –, nos indicando um prelúdio do que é visto hoje: enquanto um mundo se faz cada dia mais presente, o outro se torna raro.

Justamente a atenção dada pelo fotógrafo a estas mudanças faz com que suas fotografias sejam rastros do período em que as ruas deram lugar às grandes avenidas, os bondes foram substituídos pelos ônibus e carros, o mar pelos aterros edificados com prédios e novos bairros, transformando significativamente o aspecto da capital. Mudanças paisagísticas que se refletem na vida econômica, social e política do Espírito Santo de hoje.

Pedro Fonseca soube, em seu tempo, girar a câmera para enquadrar e trabalhar sensivelmente diante de um mundo em mudanças. Por meio das suas imagens nos rendemos conta do ponto privilegiado em que se encontrava o fotógrafo em um período singular da história nacional. No entanto, para além do mero saudosismo, estas imagens mostram a ação sensível do fotógrafo, mais do que mera testemunha, como criador diante das mudanças ao seu redor. 

Estas fotografias enfatizam o apego do fotógrafo às questões ligadas à composição e ao equilíbrio, muito além de uma produção de natureza somente informativa (retratos, eventos sociais, jornalismo, etc.), para a qual foi muito requisitado. Este recorte pousa a atenção sobre suas fotografias destinadas à ampla distribuição por meio de salões e encontro de fotoclubes nacionais e internacionais. Suas contribuições e participações o consagraram como um dos fotógrafos capixabas mais premiados e atuantes de sua época. 

Suas imagens exploram e transformam o ínfimo em solene, contribuindo para colocar Pedro Fonseca em sintonia com a fotografia de sua época, aquela que pretendia uma ação criativa e crítica sobre as aparências do mundo. Nesse ponto, sua fotografia nos leva a pensar em mestres tais como Martin Chambi, trabalhando diante dos resquícios do império inca no Peru; em Berenice Abbott, na cidade de Nova Iorque sendo substituída por arranha céus no entre-guerras; bem como ao estilo documental por meio do qual Walker Evans agia e transformava criativamente a realidade. Naquele momento e a sua maneira, cada fotógrafo avançou sobre campos antes desconhecidos, ou ainda inexplorados, e que, sob a luz de seus olhares ganharam visibilidade. Novos modos de ver e nos vermos, realidades desvendadas por meio da fotografia de criadores de um novo território. 

O desafio dessa exposição é, portanto, duplo: por um lado recuperar a memória de um dos fotógrafos mais premiados e importantes do estado, por outro, lançando foco sobre este olhar tão pitoresco quanto provocativo, procuramos fornecer pistas, tanto históricas quanto estéticas, para pensarmos a produção fotográfica de hoje.

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