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Residência de Alexandre Sequeira, 2019

"Na primeira edição do projeto, acolhida especialmente pela OÁ Galeria e pelo Mosteiro Zen Morro da Vargem, se dirige a tais provocações para assumir nossa porosidade e vulnerabilidade ao entorno como potência. Foi assim que partimos dessa e de outras estratégias curatoriais para gerar confluências a partir de Vitória e Ibiraçu, conectando o Espírito Santo ao Pará, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Portugal. Entendendo o gesto curatorial como proposição de encontros, lançamos uma ideia no ar. E ao abraçar a fragilidade da promessa, a excitação do porvir, desejamos com isso ir na contramão da vida cotidiana, que nos empurra a modelos e resultados concretos. Ao repensar esses procedimentos, desconstruimos lógicas de produção mais tradicionais e refletimos sobre nosso papel político no mundo, acreditando no lugar da arte (e da residência artística) como propulsora de transformações e experimentações.

As residências realizadas partiram da vontade de (re)aprendera se conectar com o presente e com o corpo, valorizando a partilha de vivências pessoais e outras possibilidades de criação. Apostando na condução de cada uma das pessoas envolvidas nesse processo, desenhamos em conjunto quatro residências, entre os meses de junho a outubro de 2019. As artistas Juliana Pessoa e Liliana Sanches ocuparam, cada uma em seu tempo, o espaço de uma galeria de arte que é também uma casa, movendo-se de seus ateliês cotidianos a esse novo espaço, que apesar da escala do doméstico, desafia por sua outra rotina, códigos e habitantes. Já no Mosteiro, Alexandre Sequeira vai em busca do que tem sido o grande mote de sua prática artística, a experiência (do) comum, e encontra, na solidão da casa de vidro da Estação Cultural, uma nova possibilidade de conviver com o outro. Com a residência coletiva, junto à Mata Atlântica e ao universo particular do Zen Budismo, nos lançamos ao desafio de criar um espaço de convivência temporário, lugar em que dividimos nossas inquietações, processos criativos e tarefas do dia-a-dia".

Clara Sampaio

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Juliana Pessoa (ES)

"Mediante o convite para realizar a residência, logo pensei em aproveitar a oportunidade para me preparar para a vivência que faria, no mês seguinte, na cidade de Canudos, Bahia. Em 2018, meu projeto - Nonada foi selecionado pelo Rumos Itaú Cultural. O projeto se enraíza em um trabalho que desenvolvo há cerca de três anos, a partir, sobretudo, da leitura de Os sertões, de Euclides da Cunha. O projeto surgiu, nesse sentido, da vontade de ir ao encontro dessa história e de sua memória, a fim de que o desenho pudesse ser feito a partir de um corpo a corpo com a experiência direta do lugar e de sua gente. Entre Nós foi uma oportunidade de estranhamento; fundamental para o processo criativo. Sair da familiaridade do ateliê, da espacialidade habitual, para travar novas disputas entre a mão, o papel e o lugar".

Alexandre Sequeira (PA)

"A sensação inicial de isolamento foi dando lugar a um entendimento de pertencimento e sociabilidade com tudo a minha volta, o que se confirmou em uma preleção do Mestre Daiju na sede do Mosteiro. Disse ele: nossa atenção com o outro é, em verdade, nossa atenção com tudo a nossa volta: as pedras, as plantas, o ar. Dei-me conta, então, que o trabalho que há cerca de duas décadas venho desenvolvendo a partir de relações de encontro e trocas simbólicas com outros, poderia sim se estabelecer ali, já que, a despeito de minhas primeiras impressões, não estava só. Ao longo dos onze dias de permanência na residência, me entreguei a um ritmo próprio fazendo com que cada pequeno detalhe fosse merecedor de todo o tempo do mundo".

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Residência Coletiva

"Escolho começar afirmando que o mais significativo, aqui, é a passagem, o deslocamento da consciência, a atenção ao momento. Por que não ver a consciência como a capacidade de orientar a atenção? O que segue são notas, expressões da minha atenção durante os dez dias de residência. São fragmentos de momentos vivenciados que fazem eco com as pedras soltas e os imensos abismos da paisagem do Mosteiro Zen Morro da Vargem."


Apresentação da curadora convidada da Residência Coletiva Juliana Gontijo.

 

Liliana Sanches (ES)

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"Essa foi a minha primeira experiência em uma residência artística. Nos últimos meses, eu estava à procura de novas vivências e possibilidades para pensar o meu trabalho. Todo o meu processo artístico, mesmo em época acadêmica, sempre foi feito em meu atelier, que é a minha casa. Meu espaço de criação é, então, um ambiente doméstico, seguro, familiar e de muito afeto. Moro em Vila Velha, cidade próxima de Vitória, onde a galeria se encontra. A distância entre as duas cidades é pequena na prática: tudo é muito perto e muito longe ao mesmo tempo. Sentir os efeitos desse deslocamento diário foi de grande importância para me entender como um ser que transita e está inserido em ambientes e movimentos semelhantes a outras pessoas. Penso que estamos vivendo em um período complexo e de muita individualização da vida e do pensamento. Acredito que talvez pela arte encontremos uma forma e uma oportunidade para sobrevivermos aos tempos difíceis e catastróficos. E que cada um possa projetar algo próprio é possível, criar conexões para pensar um mundo coletivamente mais saudável e afetuoso. "